Foto: Tiago
Gadelha
Um ano e meio após o episódio que ficou conhecido como
'Tragédia em Milagres', 15 policiais militares envolvidos na ocorrência que
resultou em 14 mortes permanecem afastados do trabalho nas ruas. Conforme
publicado no Diário Oficial do Estado do Ceará, a Controladoria Geral de
Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário do Estado do
Ceará (CGD) prorrogou o afastamento dos PMs até o dia 18 de agosto deste ano.
Devem continuar afastados preventivamente os policiais:
Edson Nascimento do Carmo (1º sargento), Paulo Roberto Silva dos Santos (cabo),
Sandro Ferreira Alves (3º sargento), Elienai Carneiro dos Santos (soldado),
José Maria de Brito Pereira Júnior (soldado), Diego Oliveira Martins (soldado),
José Azevedo Costa Neto (capitão), José Marcelo Oliveira (1º sargento), Leandro
Vidal dos Santos (2º sargento), José Anderson Silva Lima (soldado), João Paulo
Soares de Araújo (soldado), Sérgio Saraiva Almeida (soldado), Fabrício de Lima
Silva (soldado), Alex Rodrigues de Rezende (soldado) e Daciel Simplício Ribeiro
(soldado).
A CGD alegou que a continuidade dos afastamentos se dá para
garantir a instrução do processo administrativo disciplinar, resguardar o
comprometimento dos depoimentos que serão colhidos, "já que o processo se
encontra na fase inicial de instrução probatória, bem como a idoneidade das
informações coletadas em tais depoimentos e/ou em outros meios de prova",
conforme trecho da publicação no DOE.
Na decisão, a Controladoria justificou a continuidade dos
afastamentos destacando não ser possível admitir a possibilidade que alguma
testemunha seja influenciada pelos réus, o que, segundo o órgão, pode acontecer
mesmo que indiretamente, devido às posições ocupadas por eles. "As
características do policiamento ostensivo os coloca facilmente em contato com
pessoas de todo o tipo, inclusive, potencialmente, com as 18 testemunhas já
arroladas pelo Ministério Público e as que serão certamente arroladas pelas
defesas", disse a CGD sobre a proibição da realização do serviço externo
ou ostensivo e de participação em operações policiais dos 15 PMs, que estão em
posições administrativas e continuam recebendo salários normalmente.
Participações
Na chacina ocorrida em Milagres no dia 7 de dezembro de
2018 morreram oito suspeitos de assaltos a bancos e seis reféns. Oito policiais
afastados são suspeitos de matar dois supostos assaltantes. São eles: José
Marcelo Oliveira, José Anderson Silva Lima, João Paulo Soares de Araújo, Sérgio
Saraiva Almeida, Daciel Simplício Ribeiro, Leandro Vidal dos Santos, Fabrício
de Lima Silva e Alex Rodrigues de Rezende.
Consta na investigação que os policiais identificaram uma
casa onde estavam escondidos Lucas Torquato Loiola Reis e Rivaldo Azevedo
Santos. Testemunhas disseram ter visto os policiais entrando no local e logo
depois ouvido disparos de arma de fogo. Lucas morreu ainda no local e Rivaldo
saiu da casa preso, algemado, mas horas depois deu entrada em um hospital já
sem vida. Os policiais Sandro Ferreira Alves, Elienai Carneiro dos Santos, José
Maria de Brito Pereira Júnior e Diego Oliveira Martins também são suspeitos de
participarem da morte de Lucas Torquato.
Segundo a Controladoria, o capitão José Azevedo Costa, o
sargento Edson Nascimento do Carmo e o cabo Paulo Roberto Silva dos Anjos são
suspeitos dos cerca de 30 disparos de fuzil que atingiram os reféns Cícero
Tenório, Claudineide Campos de Souza, Gustavo Tenório, João Batista Campos e
Vinícius de Souza.
A CGD também decidiu manter restrições em desfavor do cabo
da PMCE, Natanael Vasconcelos Braga. Segundo a Controladoria, Natanael apagou
as imagens de câmera de segurança de um estabelecimento comercial localizado no
entorno das agências bancárias com o objetivo de prejudicar as investigações.
O Conselho de Defesa do Policial no Exercício de suas
Funções (CDPEF) considera a medida exagerada. "Analisamos a possibilidade
de recorrer ou judicializar a questão, porque essa medida de afastamento é
desproporcional. A decisão da CGD extrapola a decisão judicial. Eles ainda são
policiais legalmente. É complicado entender que um policial legítimo fique sem
a sua arma, por exemplo", disse o advogado Artur Feitosa, membro do
Conselho.
Diário
do Nordeste
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